Cataclismo

Houve-se o tempo do menino que jorrava sanguíneas palavras, escorriam pelo seu corpo e enxarcavam a planta de seus pés. Outras tantas alçavam voos bem mais altos sedentas pelo horizonte, buscavam terras férteis, buscavam preencher o universo com sentimentos genuínos, levavam as batidas de um coração inquieto. Selvagem!
Houve-se o tempo da angústia, do medo repressor, das vozes, do mofo entre seus dedos, do lodo que sufocara seus dizeres. Seus pensamentos cada vez mais velozes minavam suas forças e o mancebo não mais podia ficar numa posição ereta... suas costas já não suportavam a força do vento. Prostrado ao chão encontrou refúgio na relva que o encobria paulatinamente.

Restavam as batidas de um coração, seus pensamentos desenfreados e seus sonhos de menino.
Ensinaram ética.
Ensinaram educação.
Ensinaram matemática.
Ensinaram fechar.
Ensinaram calar.
Ensinaram "impossível".
A relva era mais forte que seus miúdos membros.


Passadas primaveras, verões, outonos e invernos, o menino de outrora esqueceu-se.
Deixou se dominar pelas raízes, mal percebeu que não era mais tão diminuto. Os rizomas não eram mais capazes de segurá-lo. As samambaias não tem a força de um desejo.
Quem o achará?




Ventos trouxeram uma ninfa que o encontrou. Podou suas amarras e lhe mostrou como era bonito o canto dos pássaros.

A princípio suas pupilas não suportaram tanta luz, e ainda frágil deixou escorrer entre seus lábios poucas palavras. O menino não sabia mais o sentido dos verbetes. Contudo seu coração batia, cada vez mais forte, seus pensamentos pulsavam como um vulcão em erupção e a ninfa ao seu lado, segurava forte a mão dele e lhe mostrava seus sonhos de menino!
 
filme? Bagda Cafe.